São Paulo nasceu em 25 de janeiro 1.554 no Pátio do Colégio, com propensão ao comércio e serviços, e se expandiu a partir dali. Essa região continua sendo um importante centro de compras e serviços da cidade e do País. Desde a Praça da Sé ou Praça da República ao Viaduto do Chá, passando por Santa Efigênia, região da Luz, Zona Cerealista (Mercadão) e Bom Retiro, Rua das Noivas ou Florêncio de Abreu, as transformações vistas a cada década foram centenas e, mesmo assim, a região não perde o vigor de negócios, a despeito de alguns focos de grande degradação.
O centro de São Paulo, ainda chamado de centro comercial da cidade por muitas pessoas, foi e é o cenário de muitos ícones do varejo, alguns que não existem mais e outros que ainda perduram na paisagem, mas tudo mudou muito ao longo dos anos. O centro da capital paulista é a prova de que a mudança é regra, e pode quase ser usado como máquina do tempo para quem quer antecipar alguns fenômenos que também podem ocorrer em outras regiões da cidade, do Estado e do País.
Se São Paulo resistiu ao fim de ícones como Mesbla, Mappin, Sears, Sandiz, mas mantém intactos ou adaptados os marreteiros e lojistas da 25, o Teatro Municipal, muitos restaurantes antigos e tradicionais (Gato que Ri, Piero, Ponto Chic), farmácias famosas como a Botica Ao Veado d’Ouro, que se adaptou ao longo dos anos e em 2008 passou a ter suas linhas de produtos vendidas em uma nova farmácia de manipulação, é possível atravessar mais uma crise, mais uma mudança tecnológica, se adaptando diariamente a tudo isso.
O varejo se reinventou e a cidade se adensou em outras regiões e bairros, que sempre foram testemunhas da força e diversidade da fauna do comércio e de serviços. Muitas empresas abriram e fecharam ao longo das décadas e, em geral, as que fecharam acabaram sendo apenas vítimas das mudanças culturais, sociais e econômicas que não puderam acompanhar. Dessa vez, é diferente. A pandemia acelerou um processo de mudanças que vai atingir até algumas empresas que normalmente se adaptariam em outras crises. A cidade que já teve parques industriais em seus limites geográficos mudou de vocação e evoluiu diante da necessidade, e assim será de novo. Apesar desse momento, ainda que a crise machuque muitos e derrube alguns pelo caminho, os grandes centros urbanos vão reagir, e se adaptar após a Covid-19.
Andando pelo Brasil
O País enfrentou quedas relevantes de consumo, em especial em serviços e varejo não essencial, e, não fosse o auxílio emergencial, esse cenário seria ainda pior. Muitas cidades pequenas tiveram desempenho ainda pior do que alguns centros maiores e muitas ainda estão com comércio fechado ou sob constante risco de fechamento pelo Brasil. Apesar de alguns setores essenciais terem tido bom desempenho, o fato é que o PIB deve ter caído algo próximo a 4,5% em 2020 e é claro que uma crise aguda e prolongada acaba afetando até os setores essenciais por conta do emprego e renda.
De forma geral, Supermercados, Lojas de Materiais de Construção e Farmácias tiveram bom desempenho, e outros segmentos sofreram e ainda sofrem em todo o País com a perda de emprego e renda e com as restrições sanitárias que ainda persistem em vários municípios.
A inspiração com a história de São Paulo serve como alento também para outras regiões do Brasil, mas o setor terciário de forma geral vai presenciar muitas mudanças que passam por novos conceitos, novas empresas, novos canais de distribuição e, certamente, sinergia entre o comércio e serviço presencial e o e-commerce, com o consumidor atrás do balcão ou com aquele que está do outro lado de um aplicativo ou computador – um novo balcão virtual.
Futuro: mudanças transitórias e mudanças definitivas
Transitórias:
Afastamento dos grandes centros (quem pode), escola não presencial, menos lazer ao ar livre, quase ausência de festas, reuniões sociais, cinema, viagens e comportamento mais recluso – para os jovens sob certa coerção.
Provavelmente definitiva, mas não integrais:
Maior uso do trabalho remoto deve esvaziar algumas regiões, principalmente de escritórios, com efeito sobre o comércio e serviços locais (região das avenidas Paulista e Berrini, por exemplo). Fortalecimento do comércio de bairro. Mas não dá para saber o exato efeito nesse momento.
Fora da curva:
Em tese, esses efeitos (transitórios ou definitivos) são menores quando se trata de ruas especializadas em abastecer outros negócios (como restaurantes ou lojas de roupas e os famosos sacoleiros) ou clientes especialistas. Ainda que cada vez mais a comodidade e os canais virtuais estejam presentes do dia a dia dos consumidores, muitas pessoas ainda vão se dirigir a essas regiões buscando preços competitivos, variedades e artigos especiais e informações. Esses são grandes diferenciais que comprovam que o produto físico tem de ser acompanhado de um serviço, que cada cliente define qual seja. Para muitos, a informação técnica e/ou orientação na hora da compra, em especial para compras de artigos de elevado valor, e de consumo não recorrente, são decisivas.