Quando entramos em um lugar extremamente organizado e limpo, é natural buscarmos mantê-lo assim. Quem já foi aos EUA já notou como os brasileiros de uma forma geral mudam de comportamento ao dirigir no estrangeiro em comparação ao que fazem aqui em nosso país. Por outro lado, em uma partida de futebol muitas pessoas acabam perdendo a compostura e a educação pelo simples fato de estar ao lado de uma torcida organizada.

Por CARLOS CAMPOS

O líder e a cultura da concessionária

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O que quero dizer é que o nosso comportamento naturalmente se adequa ao ambiente no qual nos encontramos. A cultura de um ambiente determina o comportamento das pessoas ali inseridas, e por sua vez, sabemos que o comportamento das pessoas de uma organização determina os seus resultados. Assim, para elevar os resultados de uma empresa de forma sustentável, deve-se primeiro edificar uma cultura de forma coerente com os princípios, valores, propósitos e objetivos mais altos de desenvolvimento.

Na realidade, as empresas são potências em busca de sua autorrealização. Se quisermos conhecê-las precisamos saber o que querem, o que valorizam, para onde desejam ir, e a partir daí entender onde estão e medir a distância entre o seu status atual com a sua visão futura.

Este caminho é repleto de altos e baixos, desafios e testes em que os valores das empresas e de seus executivos são postos à prova. Objetivos de curto prazo, situações críticas financeiras ou de custo, ou de baixo desempenho comercial são usualmente fontes de desvios ou quebra de valores e princípios organizacionais. O pensamento de curtíssimo prazo acaba se sobrepondo ao de médio e longo por uma questão de sobrevivência e muito do que foi construído ao longo de duros anos é colocado de lado pelo momento, por um novo “programa”, por uma “reestruturação necessária” ou ainda pelo mote de uma “Nova Cia”.

Não estou aqui pregando que os objetivos de curto prazo, por vezes, não devem se sobrepor aos de médio e longo prazo. Não. Na condição de empresário neste país por mais de 20 anos sei na pele muito bem o que é sofrer no curto e não poder ver objetivos ou implementar planos e iniciativas de médios e longos prazos.

O que sobra depois que é passada esta situação é o que realmente está em jogo. Seus funcionários, parceiros, fornecedores e clientes ainda acreditarão na sua marca? Na sua palavra? Em seus valores? Ou tudo o que você pregou durante anos terá sido em vão?

 

Nesta hora, é o líder – CEO, Titular, Diretor Geral – quem dá o tom e assegura a continuidade ou não da cultura da empresa. O líder é o arquiteto-chefe e principal influenciador da cultura da empresa, junto com as pessoas em que ele atrai para desenvolver. A cultura é o seu cartão postal de como está o seu desempenho na liderança da frente da empresa.  Sem uma cultura única e forte uma empresa pode rapidamente se deteriorar. Uma cultura forte e consistente em todo o negócio é fundamental para atingir o seu potencial máximo.

Mas qual a razão da necessidade de ter que imprimir uma cultura forte hoje em dia? Uma concessionária não consegue sobreviver sem isso? Hoje, não mais! Foi-se o tempo que, sem uma gestão e uma cultura profissional, um distribuidor conseguia auferir seus lucros e crescer. Este distribuidor se não desapareceu está com seus dias contados.

São várias as razões que explicam esta necessidade e que formam todo um novo contexto e ambiente empresarial. Uma delas é o mercado muito mais competitivo, com margens apertadas, onde qualquer desperdício pode ser a diferença entre o azul e o vermelho; ao mesmo tempo o aumento da procura por uma mão de obra qualificada capaz de assimilar as novas tecnologias e processos, a vinda de uma nova geração de clientes cada vez mais informada e exigente, uma sociedade altamente conectada, e cujos valores sociais são facilmente adquiridos ou (no mínimo) fortemente influenciada pelas novelas da Globo, programas como BBB, publicações inúteis no Facebook, e quando um percentual desta população verdadeiramente “Face a Book”, este está permeado de centenas de “tons de cinza”.

Não entrando na pertinência, qualidade literária ou no julgamento moral destes conteúdos e meios de comunicação, o que quero ressaltar aqui é o que esta cultura popular de hoje em dia valoriza e traz para a sociedade como um todo e, portanto para as pessoas que vem trabalhar em nossas empresas são valores e  comportamentos que nada contribuem para o desenvolvimento de uma cultura profissional orientada ao serviço ao cliente, ao respeito humano e ao esforço individual e grupal para a conquista de objetivos comuns.

Se pararmos para analisar muitas das mensagens que somos constantemente bombardeados pela mídia e por estes meios, veremos que o “ganho fácil”, a “valorização da esperteza”, o “declínio da civilidade social”, o “aumento da requisição de direitos sem o devido esforço e mérito”, a “normalização do imoral”, a “sobrevalorização do material e do consumismo”, a “exposição de pessoas bem sucedidas e cultas como nerds ou bodes expiatórios´”, e a “destruição do valor da família e da hierarquia” são temas e elementos centrais que permeiam todos os atuais meios de comunicação populares e que aos poucos vão formando um “lugar comum” na sociedade.

O que quero dizer é que para esta cultura externa atual não se sobrepor à construção de uma cultura empresarial profissional, responsável e saudável, o líder da empresa deverá ter uma “Voz” mais alta, forte e firme, capaz de abafar estas mensagens e trazer um novo ambiente e comportamentos esperados para sua empresa, onde as pessoas competentes, responsáveis, comprometidas e que entregam resultados são as que realmente são valorizadas e reconhecidas por todos.

Hoje muitas pessoas acham que merecem bônus ou promoção simplesmente por ter vindo trabalhar, e não por que excederam em seus resultados e entregas. Por acaso, está subentendido que alguma empresa contrata alguém para ser um mal profissional? Obviamente não. Assim, ser um bom profissional é dever de todas as pessoas pelo salário que foi acordado. Porém, infelizmente, esta não é a cultura que está presente na sociedade, e se os líderes de uma empresa não derem os sinais claros para a organização do que se espera das pessoas, e imprimirem os seus valores, esta cultura exterior prevalecerá sobre a cultura da empresa.

E caso nos momentos difíceis, onde os líderes são testados e postos à prova, e estes sucumbirem às dificuldades de curto prazo e perderem a credibilidade de seus princípios e valores, não haverá outra forma de reconstruí-la senão trocando o líder. Caso isto tenha acontecido com o Titular da concessionária, as pessoas sairão da empresa ou jamais se esquecerão do fato e o terá sempre como uma referência pessoal geralmente negativa.

O inverso também é verdadeiro. Se em momentos difíceis, os líderes provarem os seus valores e seus funcionários, fornecedores, parceiros e clientes forem testemunhas de seus valores e princípios, um laço de fidelidade e admiração é construído e uma relação inquebrantável é então estabelecida.

Para o líder resta o papel de ser claro e transparente em suas expectativas, em suas crenças e ser coerente entre seus atos e seu discurso. Deve dar feedback e reconhecer o que foi bom e o que não foi bom de forma coerente com o que é esperado. Deve ser forte para confrontar aquilo que é contra a cultura, persistente, resistente e seguro o suficiente para enfrentar as adversidades do ambiente e lutar para que a sua cultura prevaleça a qualquer intempérie.

Carlos Campos é Sócio Diretor da Prime Action Consulting

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