Não há mais lavoura sem tecnologia

Não há mais lavoura sem tecnologia

Transformação digital alterou processos e até mesmo a interação entre fornecedores e produtores rurais

Cada vez mais é possível perceber que o aumento da tecnologia aumenta a capacidade de uso de ferramentas avançadas por qualquer pessoa, gerando uma democratização do acesso a soluções práticas e modernas e, consequentemente, aumentando a competitividade entre empresas. No agronegócio, isso não é diferente. O segundo dia de Innovation Tech Knowledge 2020, evento organizado pela SoftSul, contou com um debate justamente neste âmbito. A mesa redonda conduzida pelo co-fundador da Brascard Vanderlei Cadore explorou a revolução tecnológica e os impactos deste fenômeno no agronegócio. “Há cinco ou seis anos, era inviável que todas as empresas tivessem acesso a tecnologias como softwares de BI, capacidade de processamento, softwares para construir algoritmos e inteligência artificial. Agora, com a democratização dos recursos de tecnologia, o que era exclusivo de grandes corporações passou a ser acessível a todos”, introduziu Ivan Moreno, CEO da Orbia.

Moreno também descreve essa revolução tecnológica em outros pilares, como a disponibilidade de recursos humanos e financeiros. “Hoje em dia é possível contratar desenvolvedores de Apps em sites. Não precisa ter conhecimento nenhum de tecnologia, basta falar como que quer determinado dispositivo funcione, contatar um programador e ver o aplicativo indo ao ar em três ou quatro semanas. Os recursos humanos não precisam, mais, estar dentro de uma empresa para que ela crie soluções inovadoras”, argumenta. Além disso, ele acredita que, com as mecânicas de open banking e crowdfunding, cada vez mais comuns, o acesso a recursos financeiros também está se tornando mais fácil. Já o terceiro pilar é o barateamento de equipamento. “Sensor, chip, drone, tudo que é equipamento está muito mais barato. A partir do momento em que se tem acesso abundante a recursos, capacidade tecnológica e equipamento, se começa a equiparar o nível de competição entre grandes corporações e um grupo de meninos com boas ideias dentro de uma universidade”, analisa.

Ainda segundo Moreno, esse processo acaba mudando o tradicional eixo de valor das cadeias – afinal, as empresas começam a se preocupar muito mais com possíveis entrantes no mercado. Com tecnologia mais barata, também começa a se pulverizar o número de produtos substitutos. “As empresas sempre procuravam aumentar o preço ou diminuir o custo. Com os novos players no mercado, cada vez que um cliente tenta fazer uma transação na cadeia tradicional e não se sente confortável com aquela negociação, ele tem a opção de simplesmente comprar em outro canal. E aí entram os marketplaces. O que eles estão oferecendo para o mercado é organizar esse número de transações. Dentro deles, o produtor rural tem a capacidade de escolher qual a melhor maneira de conduzir uma transação específica, por exemplo”, afirma. Pelo histórico característico das empresas do mercado agrícola, que provêm de cidades pequenas, há uma clara transição entre esses dois cenários, já que, há alguns anos, havia apenas determinados números de fornecedores nas regiões, e os produtores ficavam restritos a elas. Por isso, o movimento de marketplaces cresce cada vez mais nesse campo.

Blockchain e o agronegócio brasileiro
“Falar sobre blockchain hoje em dia é como falar sobre a internet na década de 1990”, comparou, logo no início de sua fala, o CEO e fundador da SOU.cloud, Fabio Junges. Afinal, é uma tecnologia disruptiva com capacidade de mudar as estruturas com as quais o mercado está acostumado. Justamente por isso, a adoção desse tipo de tecnologia pelo agronegócio – que, hoje, representa 23% do PIB brasileiro – é inevitável. “Não tem nenhum negócio mais forte em comparação ao agro. E há muita conexão entre essa capacidade e a necessidade de digitalização, investimentos e adoção de tecnologia”, defende Junges.

Fazendas, plantio para controle de armazenamento, pecuária, transporte: em todos esses processos pode ser aplicado o blockchain. “E a gente tem visto isso acontecer. As empresas estão ampliando a rastreabilidade e transparência do processo produtivo nas lavouras”, revelou Junges, pouco antes de apresentar um projeto-modelo de implementação de blockchain no monitoramento de áreas de plantio de soja. No projeto-modelo, seriam contabilizados dados desde o plantio da semente, os produtos que foram utilizados, a maneira com que foram tratadas, plantadas, colhidas, armazenadas e estocadas. “A rastreabilidade da produção não é algo necessariamente novo, mas, quando agregamos essa camada de blockchain, conseguimos fazer com que os elos da cadeia e as diferentes etapas do processo tenham um grau de simetria e transparência maior com um dado armazenado de maneira mais segura e inviolável”,detalha. Ou seja, a maioria de produtores já coleta dados – o que começa, agora, é uma nova e mais eficaz maneira de adotar essa ferramenta.