Companhia já tem contratos fechados para colocar o veículo sem cabine em operação e estuda solução para o mercado brasileiro.

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Com autônomo Vera, Volvo inaugura a era do caminhão por assinatura

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Um caminhão elétrico sem motorista, sem volante e até mesmo sem cabine. O resumo um tanto futurista descreve algo próximo de virar realidade: o modelo Vera, da Volvo, que foi apresentado pela companhia em 2018 e já tem contratos fechados para entrar em operação em breve, tornando-se o primeiro caminhão com nível 4 de automação, completamente sem motorista, a rodar em situações reais em circuitos pré-determinados.

Além de romper com uma série de padrões tecnológicos estabelecidos até então, o veículo representa a investida da Volvo em um novo modelo de negócio: o transporte por assinatura. “Não faz sentido vender um modelo como este. Vamos oferecer a solução para o cliente, que pagará por tonelada de carga transportada”, conta Sasko Cukley, diretor global de soluções autônomas da Volvo Caminhões.

O executivo apresentou o Vera a jornalistas brasileiros na matriz da empresa em Gotemburgo, na Suécia. Ele conta já ter três contratos fechados para entregar a tecnologia.

“Avançamos muito com o desenvolvimento nos últimos anos, mas entendemos que a parceria e o compromisso de entrega para os clientes é o que vai nos levar a outro patamar.”

O modelo impõe uma nova lógica à companhia, que além do veículo em si, tem atuado no desenvolvimento de um ecossistema completo para que o Vera opere de forma eficiente. O pacote inclui serviços de manutenção, infraestrutura e, principalmente, a implementação de uma torre de controle nos lugares em que o veículo vai rodar, de onde especialistas irão gerenciar a operação, traçar as rotas para os veículos e resolver eventuais problemas.

“O Vera é parte de um sistema, não uma solução isolada”, diz Cukley.

VERA NA VIDA REAL, EM TRÊS SITUAÇÕES DIFERENTES

Dos clientes com quem a Volvo fechou contrato para o transporte autônomo por assinatura, o primeiro a entrar em operação será com a mineradora Brönöy, na Noruega. Neste caso, todo o conceito e tecnologia do Vera será aplicado em sete caminhões extrapesados FH a diesel. “Entendemos que um veículo elétrico não traria tanta eficiência à operação, que teria alto consumo de energia por causa da quantidade de subidas, carga pesada, além de dificuldade de recarga”, conta Cukley.

Segundo ele, a Volvo está concluindo a etapa final de testes para entregar a solução real nos próximos meses. Depois, ainda sem data confirmada, a tecnologia passará a ser fornecida à DFDS, operadora de um centro logístico de Gotemburgo. Desta vez o Vera realmente entra nem cena: o modelo futurista vai rodar principalmente no espaço confinado, mas também circulará por alguns trechos de vias públicas. “É outro tipo de operação, mais desafiadora”, resume o executivo.

Ele diz que, por mais que o modelo passe por testes à exaustão, é na vida real que a solução precisa provar o seu ponto e ser capaz de trabalhar 24 horas por dia, sete dias por semana. A bateria do veículo tem autonomia para cerca de 100 quilômetros, conta, mas a recarga será feita por indução para que ele não precise fazer paradas.

O terceiro contrato de transporte autônomo como serviço deve demorar bem mais para virar realidade. A Volvo ainda não pode revelar quem é o cliente, mas adianta que será o maior desafio do Vera até então: o caminhão vai fazer o transporte de um centro logístico a outro, rodando um trecho considerável em estradas. Mesmo com três projetos expressivos no horizonte, Cukley é realista ao falar do horizonte para a tecnologia.

“Vamos aprender e melhorar constantemente, sempre de acordo com cada operação. Para mim, a maturidade da tecnologia é garantir que ela opere de forma absolutamente segura em cada operação, atendendo às especificidades”, avalia.

O especialista diz que em todas as operações, os veículos autônomos rodarão com velocidade de até 40 quilômetros por hora. Outra coisa em comum nos três projetos é que o principal apelo para os clientes está na possibilidade de enxugar gastos. “Hoje 30% dos custos de transporte são com o motorista”, diz.

“A vocação do Vera é para situações que demandam alto volume de transporte de cargas em operações repetitivas, desgastantes para o ser humano, e com distâncias curtas”, esclarece.

AUTOMAÇÃO VAI AVANÇAR NO BRASIL

O modelo consolida o conhecimento em veículos autônomos acumulado pela Volvo nos últimos anos, principalmente em dois grandes projetos que começaram em 2016. O primeiro é o caminhão sem motorista que rodou na mineradora Boliden, na Suécia, como um projeto de pesquisa das empresas com universidades locais.

A outra iniciativa é no Brasil, na colheita de cana-de-açúcar em Maringá (PR) – este foi o primeiro projeto comercial para caminhões autônomos da empresa no mundo e segue em operação. Neste caso, o veículo é uma versão adaptada do semipesado VM, com nível dois de automação, em que roda sozinho em situações pré-determinadas, mas precisa da interferência do motorista em diversos momentos fora desta dinâmica.

A cobrança ainda não é feita pela tonelada de carga transportada, mas sim com leasing, o que já representa mudança em relação ao modelo tradicional de venda. Marco Mildenberg, gerente de estratégia de produto da Volvo no Brasil diz que a tendência é de que as soluções automatizadas avancem mais no País.

“Os clientes se interessam e pedem a tecnologia porque ela traz vantagem indiscutível de custo. Já estamos estudando a implementação de caminhões com nível quatro de automação com clientes brasileiros”, diz.

SEM MOTORISTA, MAS COM DESIGN CENTRADO NO HUMANO

Apesar do artigo continuar masculino, o Vera é feminino, conta Cukley. Segundo ele, foi intencional a escolha de um nome de mulher para batizar o veículo. “Vera significa fé e esperança em sueco e é um nome muito comum”, diz. Apesar de não ter sido intencional, o executivo conta que o time de desenvolvimento descobriu mais tarde que este é também o nome da primeira engenheira da Suécia.

“O projeto nasceu de um esforço para pensarmos no que é ideal para o transporte do futuro, não simplesmente em seguir com evoluções pontuais com base no que já temos”, conta. Ele diz que, apesar de se tratar de um caminhão sem motorista, o design do projeto foi centrado no ser humano, em facilitar a interação entre a tecnologia e as pessoas.

“Quando falamos de autônomos, há um risco alto de construirmos máquinas que sejam assustadoras por não terem um humano no controle. Buscamos fugir disso e criar algo amigável, humanizado”, conta.

Segundo ele, o esforço não foi só de imagem e incluiu também grande participação de profissionais mulheres da Volvo no desenvolvimento do projeto. E, assim, a indústria de veículos pesados começa a incorporar um bordão bastante vivo na sociedade: o futuro é feminino – e automatizado.

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