Uma experiência multissensorial do design italiano
O que um carro, uma escultura e um sofá têm…
Vitor Matsubara – Do UOL, em São Paulo (SP)
07/10/2019
Por trás do discurso está uma história nebulosa. Antigo fornecedor da Chrysler no México, o empresário (que é conhecido na indústria automotiva como Joan Fercí) procurou representantes da marca em 1996, dois anos após a venda da Lamborghini para um fundo de investidores da Indonésia.
A intenção de Fercí era virar importador oficial da marca no mercado mexicano. Mesmo sem atingir seu objetivo, ele saiu com algo maior em mãos. “Foi assim que assinei um contrato com Robert Braner, que era presidente da Lamborghini nos EUA, e Michael Kimberley, presidente da Automobili Lamborghini, para montar o Diablo no México. Não foi muito difícil chegar a um acordo, pois eles não se interessavam muito por este mercado, e me cederam os direitos de uso da marca na América Latina por 99 anos. Naquele período montei 23 Diablos, dos quais 20 foram vendidos para os EUA e os três restantes foram para a Itália mesmo”, contou, em entrevista ao site “Argentina Autoblog”.
Autorização concedida Em 24 de julho de 1998, a Lamborghini SpA foi adquirida pela Audi AG, reforçando o time de marcas de luxo do Grupo Volkswagen, atualmente composto também por Porsche, Bentley e Bugatti. Parecia o fim da linha para Fercí. Mas a transação não intimidou o mexicano – muito pelo contrário. Em 1998, o empresário fez uso do artigo 13 do acordo firmado com os representantes da marca dois anos antes, no qual a Lamborghini Latinoamérica (nome da empresa fundada por Jorge) é autorizada “a fazer seus próprios redesenhos dentro do território de México e América Latina”. Na prática, isso significa que o mexicano poderia customizar veículos e vendê-los com a marca Lamborgh.
Projetos que nunca vingaram Assim surgiu o Eros, revelado na forma de um protótipo em 2000. Baseado no Diablo, ele teve o motor V12 retrabalhado para render 635 cv, atingindo a velocidade máxima de 385 km/h. O estilo marcante do projeto original de Marcelo Gandini foi substituído por linhas rebuscadas, especialmente na traseira, onde há espaço para um esquisito extrator dividido em três partes – que deixa o carro parecido com um antigo Batmóvel.
O projeto, porém, foi um fiasco: apenas três unidades foram produzidas na Argentina, sendo que uma delas foi rebatizada como Coatl (palavra asteca para “serpente”), fugindo da tradição da Lamborghini de aproveitar nomes de touros em suas criações. Um dos carros teria sido enviado para a Bélgica, enquanto o outro foi para a Alemanha. E o terceiro exemplar fica guardado em uma garagem na capital portenha, de onde sai apenas para participar de eventos de carros antigos. Anos depois, a Lamborghini Latinoamérica revelou o Alar 777. Novamente feito sobre a base do Diablo, ele trazia o mesmo V12, mas com cilindrada aumentada para 7,7 litros. A potência também foi incrementada para 777 cv.
Assim como o Eros/Coatl, o Alar tinha design controverso, abusando de contornos exagerados. Uma unidade foi exibida em Buenos Aires (Argentina) e até ficha técnica foi divulgada, mas há notícias de que apenas uma unidade teria sido produzida. Diante do insucesso, o designer do Alar, Ariel Casariego, deixou as pranchetas de lado e se aventurou em uma bizarra carreira de lutador de luta livre (!) em um programa de televisão, onde faz o papel de um lenhador russo. Idas e vindas Desde então, o empresário já anunciou que produziria carros no Uruguai e na Argentina, mas nada de concreto aconteceu além disso. E a história foi ficando cada vez mais esquisita. Em 2014, a empresa se aproveitou da aprovação de uma lei argentina que autorizava a homologação de veículos artesanais (os populares fora-de-série) e anunciou que produziria superesportivos na Argentina. Em entrevista ao diário “Tiempo Argentino”, Joan disse que a produção local poderia gerar de 5 a 8 mil empregos.
O mexicano também afirmou que estava trabalhando em conjunto com a Aciara, a Associação de Construtores Independentes de Automóveis. Os membros da entidade, porém, prontamente divulgaram uma nota na qual negam ter qualquer relação com a empresa de Fercí, revelando ainda que o empresário não faz parte da associação. Em 2016, a Lamborghini Latinoamérica anunciou que exibiria um novo conceito chamado L.A Vision durante o Autoshow El Garage, realizado no pavilhão La Rural, em Buenos Aires. O projeto exibido exaustivamente nas redes sociais era assinado por um designer japonês chamado Daisuke Iguchi, e não lembrava em nada os modelos anteriores. Era um típico supercarro com linhas agressivas e bem equilibradas.
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